Descobri Paulo Freire antes de lê-lo e vi de perto, o que era injustiça social, o quanto as pessoas necessitavam ser re-aproximadas dos seus direitos e que, muito provavelmente seria só ali, na escola, o espaço mais próximo em que poderiam experimentar o senso de justiça.
Um tempo depois, ao me encontrar finalmente com Freire, escuto seu relato nas linhas da Pedagogia da Esperança, “Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade” (Freire, 1985).
Desde então venho trilhando minha vida profissional e nunca tive outra ocupação neste período que não fosse ligada a educação, porém, meu olhar sobre a diversidade étnica, e os espaços do negro na sociedade, ficou adormecido. Dediquei a minha vida profissional a outras experiências que trouxeram gratificação, porém não o comprometimento social.
Atuei como professora desde o berçário até a substituição em séries do Ensino Médio e tive também o grande privilégio de atuar na alfabetização de adultos, fato este que marcou a minha trajetória devido às histórias de vida dos meus alunos.
Atuei no período de estágio como docente em duas redes de ensino: pública municipal e privada, ambas da cidade de Novo Hamburgo. Optei ao longo do PEAD, que iria fazer o estágio na escola privada onde tenho uma turma de primeiro ano, sendo que o trabalho de pesquisa que desenvolvemos trouxe uma série de recursos significativos a partir da construção dos saberes dos alunos.
Percebemos no estágio que a comunicação tem um papel importante na vida dos seres humanos e que desde os primórdios das tentativas de comunicação; nas cavernas, através do uso de códigos, ou na criação de elementos mais sofisticados como pinturas em tecidos, uso do papel para registro de mensagens; a humanidade quer transmitir uma mensagem que atualmente, está acessível aos alunos através das tecnologias digitais existentes.
Ao decorrer das semanas de estágio, quando chegamos à temática de como os africanos se comunicavam em um tempo mais primitivo, chamou-me a atenção que, os alunos se identificaram com o tema e a cultura afro, mesmo que não havendo nenhum negro na sala além de mim.
Um dos alunos trouxe para a aula um berimbau que havia confeccionado com materiais alternativos em sua casa a partir de uma das temáticas discutidas em sala de aula, que girava em torno do tema das contribuições dos negros para a constituição da cultura brasileira.
Neste momento, percebo e me vejo ressignificando a minha própria trajetória escolar em que a visibilidade negra não era mencionada e quando apresentada era vinculada “aos negros descendentes de escravos”.
Concluí o estágio obrigatório, mas em mim ficou a reflexão sobre o desenvolvimento do TCC e como dar sequência a esta pesquisa iniciada no estágio.
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