segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

A SOMBRA DESTA MANGUEIRA

Hoje, aos 73 anos, continuo me sentindo moço, recusando, não por vaidade ou para não revelar a idade, os privilégios que a chamada terceira idade usufrui em aeroportos, por exemplo.
Os critérios de avaliação da idade, da juventude ou a velhice, não podem ser puramente os do calendário. Ninguém é velho só porque nasceu há muito tempo ou jovem porque nasceu há pouco. Além disso, somos velhos ou moços muito mais em função de como pensamos o mundo, da disponibilidade com que nos damos, curiosos, ao saber, cuja procura jamais nos cansa e cujo achado jamais nos deixa satisfeitos e imobilizados. Somos moços ou velhos muito mais em função da vivacidade, da esperança com que estamos sempre prontos a começar tudo de novo, se o que fizemos continua a encarnar sonho nosso. Sonho eticamente válido e politicamente necessário. Somos velhos ou moços muito mais em função de se nos inclinarmos ou não a aceitar a mudança como sinal de vida e não a paralisação como sinal de morte.
Somos moços na medida em que, lutando, vamos superando os preconceitos. Somos velhos se, apesar de ermos apenas 22 anos, arrogantemente desprezamos os outros e o mundo.
Vamos ficando velhos na medida em que, despercebidamente, começamos recusar a novidade porque “no meu tempo era diferente, era melhor”, dizemos.
O melhor tempo, na verdade, para o jovem de 22 anos ou de 70 anos é o tempo que se vive. É vivendo o tempo como melhor possa viver que o vivo bem.
Viver profundamente as tramas que a nossa experiência social nos coloca e assumir a dramaticidade da existência na busca da reinvenção do mundo são caminhos de juventude.
Envelhecemos quando, reconhecendo a importância que temos em nosso meio, pensamos que ela se deve a nós mesmos, que ela se constituiu em nós e não nas nossas relações entre nós, os outros e o mundo.
O orgulho e a autossuficiência envelhecem; só na humildade me abro à convivência em que ajudo e sou ajudado. Não me faço só, nem faço as coisas só. Me faço com os outros e com os outros faço coisas.

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